O potencial da agricultura irrigada no Brasil foi unanimidade entre os participantes da audiência pública interativa desta sexta-feira (12), na Comissão Senado do Futuro (CSF). Sob a presidência do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), os convidados discutiram a necessidade de uma política pública de Estado para a questão no Brasil.
— Nós precisamos estar sempre debatendo políticas públicas de Estado, coisas que lamentavelmente perdemos já há algum tempo. A gente só tem política pública de governo. Os governos passam e mudam toda a política. Esta Comissão Senado do Futuro tem também este objetivo — afirmou Izalci Lucas.
Os especialistas destacaram as possibilidades de ampliação do agronegócio no Brasil, diante da perspectiva de uma população mundial de 10 bilhões de habitantes em 2050. Esse desenvolvimento, segundo eles, precisa levar em conta a sustentabilidade, num ambiente de mudanças climáticas.
Paulo Afonso Romano, diretor de Infraestrutura Geocientífica do Serviço Geológico do Brasil, fez um breve histórico da evolução do agronegócio no Brasil, ressaltando o papel de Alysson Paolinelli no Ministério da Agricultura, no governo Geisel (1974-79).
— Foi sobretudo com o desmatamento da Mata Atlântica que nós trabalhamos a agricultura até os anos 60. O objetivo era produzir. A partir dos anos 60 e com as crises de abastecimento e do petróleo — e a presença do Paolinelli no Ministério foi muito importante —, os cerrados foram incorporados. E aí já não era só produzir: era produzir e elevar a produtividade. E com isso a agricultura do Cerrado, para ser viável, nasceu moderna.
Paulo Estevão Cruvinel, pesquisador do Centro de Instrumentação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em São Carlos (SP), uma das maiores autoridades no tema no país, enfatizou que não basta visar o lucro com o aumento da irrigação:
— É importante olharmos os conceitos de responsabilidade social e sustentabilidade e observarmos a importância dos compromissos públicos em processos produtivos. Atender as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de futuras gerações. Os três grandes pilares são o econômico, o social e o ambiental. Podemos colocar aí também o capital humano como um elemento fundamental — alertou.
Representando o governo, Francisco Soares de Lima Junior, diretor de Desenvolvimento Regional e Urbano da Secretaria Nacional de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional, afirmou que o governo pretende incentivar a criação de "polos de irrigação" para aumentar a produtividade.
— Os requisitos para a estruturação desses polos são a organização de produtores irrigantes existentes; a representatividade da agricultura irrigada; e o potencial de expansão da agricultura irrigada e do aumento da produtividade com adoção de técnicas mais eficientes de irrigação — enumerou.
Nas perguntas enviadas por meio do e-Cidadania, os internautas expressaram preocupação com a crise hídrica. Paulo Cruvinel admitiu que o processo de expansão da irrigação apresenta riscos, mas a adoção de boas práticas de gestão minimizaria esses riscos. Ele afirmou ser errônea a ideia de que a agricultura é a maior responsável pelo consumo de água pela humanidade:
— [A ideia de que] 70% da água são usados em agricultura, na verdade, não é um número qualificado adequadamente sob o ponto de vista científico. Seja lá o percentual que for considerado, o grande consumidor de água não é agricultura: são as pessoas, através dos alimentos, da energia. Quem entende do ciclo da água sabe que a própria água utilizada na irrigação chega também aos lençóis freáticos. Então, há um processo de renovação — declarou.
Izalci Lucas concluiu afirmando que a Comissão Senado do Futuro continuará debatendo o tema:
— Gostaríamos muito de contar com a participação de todos vocês na consolidação, na organização e na consolidação de uma política pública de Estado para a agricultura irrigada — afirmou aos palestrantes.
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